Esses dias tive que fazer uma viagem, saindo de CG, MS, até o interior do Paraná. Considerando um desvio de roteiro que pretendia fazer na volta, mais os rolês no local, a parada toda deveria somar uns 1500km. Como o lance lá tinha muito a ver com carangas, pensei comigo, “quer saber, vou de Veraneio nessa parada!”.
E assim foi, alguns leves preparativos no Camburão e numa terça feira bem fria pela manhã botei a caranga na estrada. Rolê bem tesão, mesmo a Veraneio estando ainda tudo esculhambada em termos de acabamento, sem forros, borrachas de vedação tudo zuadas, mó barulheira dentro do carro, a mecânica compensava o rolê, tirei mó onda na estrada!
Cheguei ao pico, fiz o que tinha que fazer ao longo da semana e na sexta à noite, como um bônus, arrumamos um rolê no autódromo onde estava rolando um arrancadão, fomos acompanhar o trampo duma galera que estava acertando umas carangas que competiam. Nessa os brothers que estavam comigo, tudo nego das competições, sabendo que há pouco tempo eu tinha participado dum rachão com a Veraneio em CG, lançaram: “aê, não vai botar o Camburão na pista???”. Minha resposta é o que contextualiza o objetivo desse post. Mas antes dela, voltemos um pouquinho no tempo.
Quando instalei o bigblock sabia que eu teria trabalho pela frente com todo o restante do powetrain. Eu podia ter colocado um mero 350, torque em níveis civilizados que uma transmissão “normal” suportaria, mas nãããão, o ogro aqui é ignorante no úrtimo, inventou logo de socar um 454 goela abaixo do cofre da coitada, portanto sabia que tanto a Clark 260F quanto o Braseixos, ambos originais de C10 / Veraneio, uma hora abririam o bico. Minha estratégia foi: “enquanto estiver funcionando larga aí, o dia que debulhar eu troco por algo parrudo”. Um dia eu conto mais em detalhes, mas assim foi por pouco tempo com o câmbio. Retirei o que sobrou da Clark véia guerreira e meti logo uma ZF S5-420. O próximo da lista era o diferencial, hehehehe.
Mas por incrível que pareça o velho Braseixos perneta resistiu bravamente por muito tempo! Mesmo com as patonas 295 na traseira o limite de carga era o atrito com o asfalto, antes de judiar dos dentes das coitadas engrenagens quem fritava era a borracha. Desde que não desse grandes trancos, o que sinceramente não é nem um pouco necessário para fazer as patifarias quando se tem um bigblock, o velho eixo seguia firme e forte.
Quero dizer… firme nem tanto. Mas não por culpa do torque, mas sim por esforço cíclico. Numa fase desregulada de quando estava retirando o carburador e instalando a injeção, andou tanto engasgando e dando cabeçadas que não teve jeito, o pino não aguentou e partiu, levando junto as engrenagens da caixa. O momento pra iniciar uma nova jornada de engegambis não era o mais propício, principalmente sob aspecto financeiro, portanto decidi deixar de lado aquela ideia do “quando quebrar eu ponho algo que aguente” e simplesmente substitui o kit da caixa – satélites, planetárias e pino. Nem paguei mão de obra, substitui eu mesmo em casa e botei a caranga pra andar novamente. Tá certo que depois tive que levar ao “dentista” pra dar um talento na coroa e pinhão, que ficaram meio baleados de mastigar aquele torresmo indigesto, ou seja, se o Braseixos já não era lá essas coisas pro meu uso, com dentes cheios das obturações então era certeza que chegasse com vontade na rapadura a fada do dente ia ter que esvaziar a carteira. Minha missão a partir de então era andar pianinho no pé esquerdo.
Ah sim, pianinho, né? Hahaha. Mesma coisa que o cara namorar a mina mais gostosa do bairro e dar só beijinho no rosto pra poupar o produto. Acha que eu segurava a onda? Nem phudendo, sempre que dava era pé direito no fundo e esquerdo pro lado, hahahah, e toca-lhe cheiro de borracha queimada! Hahahaha. De novo: enquanto o atrito com o solo fosse o “fusível” eu estava resguardado.
Aí me aparece o tal rachão em CG. Pensei comigo “putz, pista tratada vai ser treta, ali a historia é diferente”. Bom, mas vamos lá, né… a gente vai “pondo devagarzinho pra não machucar”, mas se no final a tranqueira espanar, pelo menos eu estou do lado de casa e com uma pá dos brothers pra ajudar.
Enfim, retomando ao papo lá de cima, essa foi a minha resposta aos brothers lá no autódromo.
Se me estoura um diferencial em CG, beleza, tá fácil me virar. Mas imagina dar uma zica dessas aqui no interior do Paraná, num pico que não conheço ninguém, imagina o transtorno!? Mano, sem chance. Meu Camburão vai ficar é quietinho no estacionamento.
Acabei saindo de viagem de volta no sábado lá prumas 13:30. Mas não em direção a CG, resolvi dar uma passada no sítio dar um alô pros meus pais, mas também pra acatar à solicitação dos brothers gearheads da região que curtem a oportunidade de dar umas aceleradas no Camburão, hehe.
Rolezinho dos infernos esse, passei dentro de umas 15 cidades / vilinhas, 6 horas e meia pra rodar 400km, até estrada de terra tive que pegar, com isso acabei chegando ao destino já era de noite. Colei no meu brother parceiro das antigas nas zueiras automotivas, o Hairy Bee, lógico que ele queria aproveitar a presença da Vera e sentar no banco do carona pra sentir o pulmão espremer contra as costelas, hehe, mas mais do que isso, o bixo tava doido pra ver o controle de arrancada que eu havia instalado, o tal botãozinho do two-step ligado à injeção eletrônica.
Pronto. Começou a patifaria
O peguei no posto de gasolina que fica na saída da cidade, a ideia era sair por um trecho da estrada pra dar aquelas apertadas de pé. Logo ao sair do posto acessando a estrada tive meu primeiro sinal de que a coisa ali poderia ficar feia: normalmente com a Veraneio em primeira marcha não é necessário qualquer envolvimento da embreagem para que ela dê uma rabiscada, basta apertar o pé direito no fundo que a bichinha já torce. Mas não foi isso que ocorreu, mesmo em curva, quando chuchei o pé ela empurrou foi com força pra frente, pneuzões pregados no chão, nada de escapada! “Carái, grip da borra esse asfalto aqui”, pensei eu… vai vendo.
Primeira, segunda, terceira, um pouquinho de velocidade pra deitar os cabelos do parceiro, lá na frente pegamos um recuo e manobramos. Alinhei a encrenca na pista, parei, apertei o two-step e comecei a dar giro. O bicho primeiro limita, fica aquele vrum vrum vrum do motor querendo pular pra cima e a faísca falhando mantendo a 3K. Aí aperta o pé no fundo e a papinha vem com força, o bicho dá aquela engasopada, começa a pipoqueira no escape, até que solta a embreagem (na manha) e o junto botão, e o torque vem na medida exata pra empurrar as toneladas adiante da maneira mais eficiente possível! Já andando o giro vai subindo chocho, apagadão, mas a caranga vai pregada no chão, tudo que vem do motor é transmitido dos pneus para o asfalto e ela acelera violentamente! Era isso que o brother queria ver, hehe, ou melhor, sentir! Duas toneladas e meia acelerando com muita força e destracionando absolutamente nada!
Beleza, passa segunda, passa terceira, aí quando está entrando na cidade seguro e paro a caranga. Hairy Bee olha pra mim com cara de interrogação e eu digo: “agora veja como funciona quando NÃO usa o controle de arrancada!”. Pra que…
Dou umas bombadas com o pé direito, só que agora não tem ninguém segurando o giro não! O ponteiro vai lá no 5K, seguro, e pá: pé esquerdo praticamente saindo pro lado, e o direito prega na lata!
Mano, não deu tempo nem do carro se mexer. Só veio aquele tranco e o pipoco – puummm – e a Veraneio ficou lá parada, de primeira marcha engatada, motor ainda rodando, e o barulho vindo lá da traseira – plam, plam, plam – diminuindo a frequência à medida que a rotação caía.
Só veio aquele “aiiii carái”, meio desolado do brother. E eu já pensei: “lá se foi o pino da minha caixa de satélites novamente”.
Bom, a mherda já estava feita, preju está posto, só que agora ainda vinha a treta pela frente: levar a Veraneio de volta ao posto pra guarda-la em segurança. “Ah, só rebocar, tá pertinho, é de boa”. Não, não exatamente. Seja lá o que se quebra lá dentro, o mais comum a acontecer é a ponta de eixo de soltar. Conclusão: se rodar a roda cai!
Bom, ali no meu caso tinha uma pequena vantagem: como a traseira é largadona o pneu fica escondido pra dentro da lata, então ao menos cair a roda pra fora do carro não iria cair. O maior problema ao tentar rodar é que o pneu ia roçando na borda do para-lamas, ou seja, se simplesmente fosse rebocar indiscriminadamente eu não chegaria ao posto com o pneu inteiro.
De qualquer forma, Hairy Bee ligou pro parça no posto e ele colou com uma F1000, trazendo corda. Aí foi assim: amarramos, o parça foi lá na F1000 acelerando bem na manha, Hairy Bee ficou cuidando do volante e eu fui pra lateral esquerda traseira com lanterna do celular acesa pra ver o quanto o pneu estava pegando na lata. Não tinha jeito, à medida que andava a roda ia saindo cada vez mais, ou melhor, cada vez mais roçando o pneu na lata. O que fazer? Ah, sei lá, comecei é enfiar uma bicudas no pneu enquanto rodava pra ver se ele voltava pra dentro do eixo, hahaha. E olha, vou te falar: parecia funcionar, se não fazia voltar pro lugar ao menos retardava a saída e permitia rodar alguns metros mais.
Aí me deu um estalo: lembrei que tinha um jacarezinho no porta-malas. Mandei parar, abri lá, já puxei o jacaré e joguei lá em baixo, levantei até descolar a roda do chão e boa: só uma cutucada e ela voltou lá pra dentro, pro lugar dela, livrando os poucos centímetros entre pneu e lata. Beleza! Desce a bicha e reboca mais um pouco, hahaha. Tipo assim, acho que andava uns 20 metros, aí já tinha que macaquear novamente. E eu lá enfiando bicuda no pneu enquanto rodava, hahahaha. Que palhaçada, ridícula a situação!
Aí lógico, se o barato já tá phudido a pedida é certa pra fazer mais mherda ainda, né? Vai vendo a cagada: eu lá enfiando bicuda no pneu na maior calma e serenidade, super concentrado, num lugar muito bem iluminado, nunca que eu ia errar a mira, não é mesmo? Imagina só se eu erro o chute e ao invés de acertar a borracha o pé entra pra debaixo do pneu com o carro rodando? Então, né…. kkkkk
Mano, a cena foi essa mesma, eu lá bicando igual um retardado, quando menos percebo o bico da bota foi pra baixo do pneu. Mesmo rodando devagarzinho – sem mínima chance de puxar de volta. Só foi aquele blup (imaginem a sonoplastia agora, eu reproduzindo o som de um pneu passando por cima de um pé) e eu lá olhando com cara de susto. Dá nada não, né?, só uma geringonça de 2 toneladas e meia…
Caras, foi aí que eu matei uma grande curiosidade minha que nunca tinha tido coragem de testar: o bico de aço da minha bota Caterpillar aguenta um carro passando por cima? Aguenta sim! Hahahahahaha! Show!!! Olha a sorte de estar com ela e não outro calçado qualquer! Enfim, foram aquelas frações de segundo entre susto e entender o que aconteceu e beleza, vamos voltar a bicar o pneu porque o reboque continua!
Foi assim então o caminho até chegar ao posto, com umas 10 paradas pra macaquear. Só tirei as coisas do carro, tranquei e larguei lá mesmo, bora pra festa.
No dia seguinte teria que sair cedo pra CG, arrumei uma carona com a família e fui embora, nem olhei pra cara da Veraneio. Na segunda feira Hairy Bee chamou a prancha e a levou pra oficina, bastou tirar a roda, nem precisou abrir a tampa do diferencial pra descobrir o que havia ocorrido, se liguem:
Depois abrindo o diferencial notou-se que o pino também havia entortado, mas ao menos o restante da caixa estava íntegro. Arrumei uma ponta usada original baratinha, compramos um pino novo e montou tudo de volta. Até que o preju não foi grande. Seja no eixo, seja no pé…
Aí você me pergunta: e agora, vai substituir finalmente esse Braseixos véio perneta por algo que preste? Então, sinceramente, ainda não estou na melhor fase financeira pra fazer isso. Até porque, se for pra fazer, quero fazer um trem phudido, daqueles pra deixar o capeta guiar o carro com drag tires sobre VHT e embreagem de cerâmica, ou seja, pra não quebrar nunca! Dana 44 esquece, já sei que não aguenta também. 46 tenho minhas dúvidas, ou seja, já que é assim mete logo um Dana 60. Mas Dana 60 é treta que além de ser muito pesado só tem relação curta. Aí me deu um estalo: o que os manos da arrancada nervosa nos EUA usam, tipo a Farmtruck? Aha! Preparemos o bolso, porque o dia que der é por aí que eu vou! Enquanto isso, vou ter que me comportar igual crente com a Veraneio, “só beijinho no rosto” pra não violar o produto, hahahahaha.